O uso de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) com lastro em contas a receber SaaS vem ganhando espaço no mercado como alternativa para financiar empresas de software que operam no modelo de assinatura. Rodrigo Balassiano, especialista em fundos estruturados e inovação financeira, explica que esse tipo de operação pode transformar fluxos recorrentes de receita em liquidez imediata, oferecendo às empresas recursos para acelerar seu crescimento, ao mesmo tempo em que apresenta oportunidades de retorno para investidores que buscam ativos diferenciados. A atratividade desse modelo, contudo, depende de avaliação cuidadosa dos riscos inerentes ao setor e à estrutura de cada operação.
No modelo SaaS, a receita é obtida por meio de contratos de assinatura que geram pagamentos mensais, trimestrais ou anuais. Essa previsibilidade de fluxo é um fator positivo para a estruturação de um FIDC, pois permite estimar o desempenho da carteira com maior precisão. Ainda assim, há variáveis que precisam ser consideradas, como o churn (taxa de cancelamento), a inadimplência e a capacidade da empresa de manter sua base de clientes ativa e engajada ao longo do tempo.

Contas a receber SaaS: características e pontos de atenção
A estruturação de um FIDC lastreado em contas a receber SaaS começa pela cessão dos direitos creditórios gerados pelos contratos de assinatura da empresa de tecnologia para o fundo. Rodrigo Balassiano observa que a análise dessa carteira deve incluir métricas específicas do setor, como taxa de retenção líquida, ticket médio por cliente e custo de aquisição de clientes. Esses indicadores permitem avaliar a estabilidade e a escalabilidade do negócio, bem como estimar o potencial de crescimento da receita.
Do ponto de vista regulatório, as mesmas regras gerais para FIDCs se aplicam, mas há cuidados adicionais devido à natureza intangível do serviço e à dependência de fatores tecnológicos. É fundamental que o regulamento do fundo descreva de forma clara os critérios de elegibilidade dos créditos, incluindo a verificação de contratos ativos, a documentação de consentimento dos clientes e a existência de mecanismos de cobrança em caso de inadimplência.
Os riscos dessa operação estão diretamente relacionados à performance da empresa cedente. Quedas abruptas na base de clientes, problemas na prestação do serviço ou mudanças regulatórias no setor de tecnologia podem impactar o fluxo de pagamentos e, consequentemente, a capacidade do fundo de cumprir com suas obrigações. Para mitigar esses riscos, é comum que sejam exigidas garantias adicionais, como retenção de parte dos recebíveis ou a manutenção de um nível mínimo de receita recorrente mensal (MRR).
Outro aspecto relevante é a diversificação da carteira. Fundos que concentram recebíveis de poucos clientes finais ou de um segmento específico correm maior risco em caso de inadimplência ou cancelamentos. A diversificação geográfica e setorial pode reduzir a exposição a eventos adversos localizados e aumentar a resiliência do portfólio.
Do ponto de vista do investidor, a atratividade desse modelo está na combinação de fluxos recorrentes com potencial de retorno acima da média da renda fixa tradicional. Entretanto, a avaliação deve considerar não apenas a taxa de remuneração, mas também a qualidade da gestão, a governança do fundo e a solidez da empresa cedente. Rodrigo Balassiano ressalta que, em um setor dinâmico como o de tecnologia, a agilidade na adaptação às mudanças de mercado é tão importante quanto a robustez das garantias financeiras.
Considerações finais
Os FIDCs com lastro em contas a receber SaaS representam uma alternativa inovadora para financiar empresas de software e oferecer novas oportunidades aos investidores. A previsibilidade dos fluxos de receita e a escalabilidade do modelo SaaS são fatores que sustentam a atratividade dessa modalidade. No entanto, o sucesso da operação depende de análise detalhada dos riscos, de governança rigorosa e de mecanismos de proteção adequados. Rodrigo Balassiano conclui que, quando bem estruturados e alinhados às melhores práticas de gestão, esses fundos podem oferecer uma combinação equilibrada de segurança e rentabilidade, contribuindo para o desenvolvimento do ecossistema de tecnologia e para a diversificação do mercado de capitais.
Autor: Dorkuim Lima