A prática da religião e da espiritualidade tem se mostrado um recurso valioso para a promoção da saúde integral das pessoas. Nos últimos anos, essa constatação tem ganhado espaço entre os profissionais de saúde.
Padre Wladimir Porreca, da Diocese de São João da Boa Vista e pesquisador da Universidade de Brasília, destaca a importância da religião e da espiritualidade (R/E) no cuidado com a saúde. Ele sugere que esses elementos podem ajudar a transcender o adoecimento, as perdas e os sofrimentos, oferecendo caminhos para a construção de sentido e ordenação de vida.
Historicamente, a relação entre R/E e o cuidado em saúde nunca se rompeu, mas foi ressignificada e adaptada ao longo do tempo. Essa relação continua a ser parte integrante da identidade das pessoas, especialmente no Brasil, onde a espiritualidade é profundamente entrelaçada com aspectos culturais, étnicos e sociais.
Ignorar a dimensão da R/E no cuidado em saúde seria privar as pessoas de elementos essenciais para o bem-estar físico, psíquico e social. Isso poderia levar a reducionismos e fragmentações antropológicas, além de aumentar as lacunas entre a formação e a prática clínica dos profissionais de saúde.
É crucial que os profissionais de saúde dediquem tempo e atenção para compreender os elementos de R/E que os pacientes utilizam para interpretar e dar sentido à sua doença. Isso pode revelar caminhos para usar esses elementos como suporte no enfrentamento dos problemas de saúde, tanto para o paciente quanto para seu contexto.
A R/E não se limita a experiências privadas e intimistas, mas também influencia a subjetividade humana em várias esferas, incluindo a pessoal, social, espiritual e profissional. Essa integração pode facilitar uma relação de respeito e acolhimento entre os profissionais de saúde e os pacientes.
A relação entre R/E e o cuidado em saúde pode ser um recurso valioso no enfrentamento das doenças, desde que sejam respeitadas as especificidades das experiências espirituais e religiosas. Não se pode mais condicionar o espiritual e o religioso à esfera individual, ignorando a totalidade do ser humano.
Infelizmente, ainda há profissionais de saúde que mantêm uma atitude negativa em relação à interface R/E e cuidado em saúde, desconsiderando as experiências espirituais e religiosas dos pacientes. Essas crenças são muitas vezes vistas como ultrapassadas, excluindo-se a transcendência das práticas religiosas.
Com o reconhecimento gradual da R/E na prática clínica e o aumento de estudos sobre essa relação, é urgente incorporar procedimentos que sustentem uma visão holística do ser humano. Isso pode promover um cuidado em saúde mais humanizado e diminuir as lacunas entre o saber e o fazer na prática clínica.